Pesquisadores e dirigentes de fundações de apoio destacam o papel estratégico na execução de projetos e na articulação entre universidades, empresas e comunidades
As fundações de apoio são, hoje, o elo operacional que garante a execução de grande parte da pesquisa aplicada no país, especialmente em regiões com menor rede de suporte institucional. Dados do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies) mostram que são mais de 30 mil projetos gerenciados pelas fundações de apoio. Nesta semana, durante a abertura do Festival de Inovação Curicaca 2025, em Brasília, o ministro da Educação anunciou que será criado um grupo de trabalho que irá rever todas as relações entre as universidades e as fundações de apoio, que são responsáveis por gerir pesquisa e a inovação no Brasil.
Para Ernani Leite Andrade, presidente da Fundação de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e à Extensão do Instituto Federal do Ceará (Faifce), as fundações de apoio enfrentam muitos desafios comuns, desde o recebimento dos custos operacionais até a exigência de documentações por parte dos pesquisadores, mas também enfrentam desafios diversos, uma vez que fazer a compra de um equipamento que deve ser entregue em São Paulo não tem o mesmo custo de um que será em entregue em Rondônia, por exemplo. “Muitas vezes, me pego ao telefone ligando para outros presidentes pedindo apoio para saber como ele resolveu determinada situação, e os outros presidentes e os Confies sempre têm nos auxiliado”, relata.
Ernani detalha a atuação da fundação, que também tem o papel de identificar iniciativas que dão certo e replicá-las em outras instituições. “Atualmente, a Faifce gerencia cerca de 95 projetos ativos e apoia 1.200 bolsistas, em parcerias com instituições de ensino superior dos estados do Acre, Rondônia, Roraima, Amazonas e Ceará. Estamos no Ceará, mas também apoiamos instituições de ensino do Norte que ainda não dispõem de fundação própria. Por meio dessa rede, conectamos pesquisadores, replicamos projetos de sucesso e ajudamos a transformar soluções locais em iniciativas escaláveis”, explica.
Entre os exemplos citados pelo professor, estão o Centro de Inovação e Desenvolvimento do Semiárido (Cidts), com foco em empreendedorismo feminino e formação de cooperativas, e um projeto de produção de leite A2A2, que hoje abastece merendas escolares com rastreabilidade e segurança alimentar. Ernani ressalta, ainda, a complexidade operacional da gestão. “Para um mesmo projeto, compramos desde pintinhos de criação de um grupo de empreendedoras rurais até microscópios de milhões de reais para outro núcleo de pesquisa. A diversidade de aquisições exige uma estrutura ágil, e é aí que a fundação faz toda a diferença”, afirma.
Inteligência Artificial no Cerrado
Do lado acadêmico, o professor Anderson Soares, pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG), que coordena 26 projetos apoiados pela Fundação de Apoio à Pesquisa da UFG, reforça o impacto direto da articulação com fundações no avanço da produção científica e tecnológica. Ele cita projetos de inteligência artificial, como um assistente conversacional por voz para orientar produtores rurais durante a safra, e a startup brasileira-canadense Syncar, que desenvolve veículos de pequeno porte com tecnologia de ponta.
“O sucesso do nosso centro se deve à junção de forças com o apoio da Funape. Com ela, conseguimos dedicar tempo à pesquisa e à articulação com parceiros, enquanto a fundação cuida da gestão, compras e da logística”, diz Anderson. Segundo ele, o Centro de Excelência da UFG, cujos contratos são operados pela Funape, captou cerca de R$ 70 milhões nos últimos anos e tem em torno de 1.000 bolsistas vinculados a projetos de pesquisa e desenvolvimento.
O docente também destaca o papel decisivo das empresas que apostam em inovação e acreditam na pesquisa acadêmica como vetor de desenvolvimento. “Temos parcerias muito significativas com empresas como WEG, Cemig, Itaú, Globo, Vivo e Positivo Tecnologia – todas investem em projetos de P&D desenvolvidos aqui na UFG com apoio da Funape. São colaborações que demonstram o potencial da integração entre universidade e setor produtivo”, pontua.
Anderson ressalta, porém, que o Brasil ainda precisa avançar em mecanismos de financiamento mais estáveis e previsíveis. “A ciência funciona em médio e longo prazo, e a falta de previsibilidade orçamentária dificulta a continuidade das pesquisas. Precisamos de políticas mais sólidas, que garantam segurança aos pesquisadores e estimulem ainda mais a participação do setor privado nesse ecossistema”, afirma.
Congresso Confies
A interlocução e a troca de experiências promovidas pelo Congresso Confies também aparecem como elemento decisivo. “O Confies foi um divisor de águas”, avalia Ernani, destacando a rede de apoio entre presidentes e técnicos das fundações que facilita soluções práticas para problemas comuns. “Essa união foi determinante, não só durante o evento, mas ao longo do ano, a parceria entre os membros do Conselho tem sido muito importante. Recentemente, tivemos a mobilização que resultou na inclusão da emenda 543 ao PLP 108/2024, medida que preserva o tratamento tributário diferenciado para as fundações e evita a tributação de recursos carimbados para educação e ciência. Uma vitória para todas as fundações de apoio”, destacou.
O 8º Congresso Nacional Confies acontece nos próximos dias 15, 16 e 17 de outubro, no Parlamundi Centro de Convenções, em Brasília.