O pesquisador lamenta atraso e fragilidades da educação do Brasil e pontua algumas necessidades básicas
A pandemia de covid-19 acelerou o processo de transformação digital no mundo e o novo cenário representa imensos desafios ao Brasil, principalmente no que se refere ao mercado de trabalho na era da economia do conhecimento. A avaliação é do pesquisador Silvo Meira que aponta as deficiências da educação brasileira para fazer frente às novas tendências globais.
Palestrante da cerimônia de abertura do 3º Congresso Nacional do CONFIES, em 11 de novembro, o pesquisador vê surgir uma nova tendência no ambiente de trabalho: o mundo digital, além do trabalho físico.
“Grande parte do trabalho, daqui para frente, será hibrida; o ambiente de trabalho vai migrar rapidamente de um local fixo para canais digitais”, acredita. Para acompanhar os novos horizontes, serão necessárias mudanças rápidas de comportamento da sociedade, acrescentou o cientista Meira, um dos palestrantes mais requisitados para o tema transformação digital e um dos fundadores do Porto Digital (PE).
O presidente do CONFIES, Fernando Peregrino, mediando a palestra, perguntou sobre de que forma as novas gerações, como os estudantes do ensino básico, poderiam atender essas exigências e participar desse novo mercado. “Como trabalhar a educação de nossas crianças para esse mundo digital?”, perguntou Peregrino.
Em resposta, Silvio Meira lamentou o atraso e as fragilidades da educação do Brasil e pontuou algumas necessidades básicas. “A primeira coisa que o cidadão precisa ter para participar da economia do conhecimento é dominar a língua mãe, falar e escrever bem. A segunda coisa é ter uma segunda língua e saber matemática (lógica e capacidade de raciocínio)”, disse. “Estamos em um universo em que 90% dos alunos que terminam o ensino fundamental no Brasil não sabem que 90% é 9 em cada 10. Daí, sem saber matemática, a chance de alguém participar do universo do conhecimento associado a plataformas digitais é muito baixa”.
MUDANÇA DE COMPORTAMENTO
Em razão das medidas de distanciamento social forçadas pela pandemia da Covid-19, o uso das tecnologias (serviços digitais, sistemas financeiros digitais e e-commerce) vem se tornando essencial no dia-a-dia fazendo com que as pessoas mudem seus hábitos. Para Meira, essa mudança de comportamentos acelerou o uso desses serviços no mundo todo.
Como exemplo, citou o crescimento do ritmo das vendas pelo e-commerce (plataformas digitais e que vem dominando as vendas varejistas. Ele citou pesquisa da Ecommerce Brasil realizada em julho 2020 que revela que o número de pedidos no varejo pela internet aumentou 98% em abril, contra alta de 133% em maio. Já a receita cresceu 81% e 127%, respectivamente. Enquanto isso, em 2019, antes da pandemia, o crescimento médio dos pedidos online havia ficado em 7% entre o primeiro e segundo trimestres.
Conforme o pesquisador da UFPE, hoje 4,5 bilhões de pessoas estão conectadas à internet pelos dispositivos móveis, se comunicando em rede, praticamente em tempo real. “58% das mensagens são respondidas em menos de um minuto”, disse ele que considerando alta essa frequência. “Isso vinha acontecendo desde o começo da internet, há 25 anos, ou desde as erupções digitais, há 50 anos, mas que foi acelerado pela covid-19 e que causou mudanças ainda mais dramáticas”, disse. “Por exemplo, o aumento das compras online no Brasil, de alimentos e bebidas, saltou de 295% em abril, para 334% em maio.”
No mercado de trabalho, os dados também mostram essa tendência do mundo digital, cenário que deve ser mantido no período pós-pandemia. “As pesquisas apontam que 82% das pessoas vão manter os comportamentos adquiridos na crise da pandemia. São os sinais dos novos normais”, observou.
(Assessoria de imprensa)